Ora bem, entrava eu no aquartelamento vindo da Ponte dos Fulas, desta primeira vez não estive muito tempo – ainda bem, regressei aonde nunca tinha estado a não ser só de passagem – ao aquartelamento… Aí aprendi isto… pois só tinha aprendido que na ponte dos fulas estava um grupo de Combate… e aprendi – “ipso factu et al pare”… porque experimentei e vivi lá… Mas agora era assim, dos três grupos de Combate que ficavam no quartel no Xitole - um ia fazer patrulhamento já bem integrado no mato e nas cercanias da companhia, outro grupo seguia para as Tabancas – missão psico; outro ficava de serviço ao aquartelamento… A Formação e Comando claro sempre no quartel lá olhava pela nossa comida, pela mecânica e enfermaria, por guardar as armas etc etc… e olhava pela Secretaria do Regimento – bonito nome… E enfim – bem vamos semear minas… Bem lá vem o Cmdt de meu Pelotão - saudoso, e diz-me. Guimarães vamos colocar aqui uma minas… Na frente da casa dos Morteiros, do abrigo junto à porta de Armas onde tínhamos o 1º Grupo de combate, o outro que se seguia na mesma direcção, onde estava o 2º grupo, já junto à casa dos morteiros e depois a frente da Casa do Chefe de Posto e Cozinha – tudo foi minado a cerca de 50 a 100 metros… mina Portuguesa M.966 com espoleta de pressão… Não precisávamos de guardas e O Alferes eu e o Quaresma lá colocamos aquilo…
Só queria dizer um segredo de estado – não tinham detonador… mas quem manda pode e obedece quem deve… Portanto uma plantação não profícua e inútil em que só um se acreditava que aquilo funcionava… bem e quem não sabia teria medo – valeu por isso. Afinal nos andamos a fazer aquilo de dia ali bem perto dos da Tabanca – ele informariam os amigos … quiçá meus alguns… porque afinal… ELES SABIAM TUDO…
Bem – outro dia e mais plantação de minas – fui eu com o Ferreira, para a mesma frente mas já do lado das tabancas, acima da casa do Jamil Nasser… Bem essas minas e foram duas do estilo das primeiras já tinham detonador.
Sampaio (saudoso), Quaresma (saudoso que ali perto morreu a armadilhar), Ferreira e eu éramos respectivamente o Alferes e os três Furriéis de Minas e Armadilhas da Carta…
E a vida sucedia-se no dia a dia … mato, tabancas e serviço… levar a comida à Ponte e pronto…
25 de Julho…. esta data “copiei” – estávamos sossegados no Acampamento e o Correia sai com o primeiro Grupo de Combate… foi a ele que tocou… a certa altura que valente tiroteio… naquele altinho que existia em frente onde andamos a armadilhar antes, digamos que entra o nosso quartel e a Ponte… trá… trá.. trá… pum pum… e o Morteiro 81 junto à casa da secção que dele se encarregava fez fogo para as bandas da emboscada… Passa tempo e eis que chega o Grupo de Combate com o Correia (Alferes 2º Cmdt da CART)… Pronto e lá vem a história da emboscada – a 1ª…
Quando já em posição de emboscados – na mata, um dos soldados vira-se para o Alferes e diz: - meu Alferes uma cabra de Mato: - atira-lhe diz o Correia… e aquela Cabra poderemos dizer que foi um “Anjo de Guarda… porque por detrás dela estava mesmo um grupo de IN… estes sentiram-se detectados, atiraram e fugiram… parece que ainda tiveram feridos, sendo que a nossa tropa não teve nem uma beliscadura….
Ainda bem….
O Soldado que detectou o Anjo mais tarde veio com o prémio Governador-geral à metrópole. Pronto, foi a maneira de dar uma prenda.
Um abraço, David Guimarães
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Ponte dos Fulas - meu primeiro destino de guerra
As "suites" com as respectivas valas
Ao fundo, junto à ponte, o "fortim" de segurança imediata
No ano de 1970, 16 de Maio pelo fim de tarde sai de Viana do Castelo um Comboio com um Batalhão rumo a Alcântara… parou três vezes… uma em cima da ponte de Viana (um militar desenquadrado das formaturas – chegou na hora do comboio partir e (pendurou-se na plataforma da porta)… como as portas estavam trancadas – ELES LÁ SABIAM PORQUÊ – o alarme toca e o militar então entrou para a carruagem em cima da ponte… Novamente em marcha fomos parar em Campanhã… Ali aguardavam os nossos Comandos o CMDT da Unidade mãe – RAP2 – e fizeram-se as despedidas… Entretanto mudou-se a locomotiva também… E lá partimos e surge a terceira paragem e última do Comboio…. Estação Marítima de Alcântara… Era o dia 17 de Maio, um navio embandeirado e muito velho (Carvalho Araújo), nós a entrar para dentro daquela coisa… uma festa dos diabos no meio de tantos choros… e lá fomos…. e era dia 25 de Maio e lá estávamos nós a desembarcar ali… numa água muito turva e um clima altamente quente e abafado… Trajecto até Brá e pronto lá nos instalámos nas tendas de campanha… Uns dias depois, poucos, aí vamos nós ruma ao rio e entramos naquele grande barco de ferro… que coisa…. Era noite… Uma Berliet, um Batalhão inteiro e tudo o mais… as ideias, as saudades e começa aquela coisa a andar… Uma LDG que passadas umas horitas atracava no cais do Xime… onde saiu tudo… Já era dia claro que era… a noite tinha-se passado naquela excursão rio acima…. Ouviamos o termo pira… os deditos no ar… Ordem…. Viaturas e mais viaturas… a Cart 2715 fica aqui as outras embarcam nas viaturas… (CCS, 2714 e 2716)… e lá começou aquilo a andar… Bambadinca… a CCS desce aqui as outras seguem… mais dedos no ar e chamamento de piras…. Recomeçou a marcha…. A coluna volta a parar…. Aqui é Mansambo, desça a 2714…. A outra segue…. Uma Companhia que ia bem para mais longe…. A 2716 que continua… sempre no mato víamos de um e de outro lado tropa… que nos saudavam com os dedos de pira… até que surge uma voz de alguém que nos acompanhava… Isto aqui é vosso – A PONTE DOS FULAS… mais uma roda de piras e... continuamos mais aqueles 3 km… e no terreno meio inclinado aí estávamos nós Xitole…. Bem aqui e ali alojem-se … aqui sargentos ali oficiais…. Vivam estejam bem, sejam bem vindos, eu também já fui pira… a minha farda já foi nova etc etc…
Mas a Ponte dos Fulas tinha lá tropa… - quem me dera não ir para lá… pensei eu… ali deve ser um desterro…. Tinha-se passado um dia e ordem de sorteio… quem vai para a Ponte dos Fulas? 3º Grupo de Combate – neste momento vão só duas secções que serão enquadradas pelas duas da Cart que fomos substituir… E la foram as duas secções – por um mês. Não é que uma das secções foi exactamente a minha….
Comecei assim a minha guerra do Xitole não aí, mas na Ponte dos Fulas… Onde cedo conheci o Mamadu pescador, que era o único sinal de civil que por lá aparecia quando ia à Pesca para o Pulon.. o tal rio que numa época quase nem corria e noutra era um grande rio… mais nada…
Dizia-me um Furriel já velhinho – que me ensinava estar na Ponte: - aqui não fazes nada, é só vigiar e deixar passar o tempo – e de noite se estiveres com atenção ouvirás de vez enquando o batuque …o deles claro… apontando-me os lados de Satecuta….. Isto foi verdade… eu ouvi mais vezes sim, portanto não era treta de velho…
Como me tinha esquecido dos meus Valiuns no Quartel do Xitole pedi ao Furriel Ferreira, meu camarada de curso e também de minas e armadilhas – que providenciasse para ao outro dia me lá levarem a pílula…
Não há dúvidas ao outro dia lá tive a pílula e o negócio de estar ali um mês destacado a fazer – nada… Mas fez-me bem começar na PONTE DOS FULAS.
David Guimarães
Onde é o Arraial?...
da 1ª flagelação ao Xitole em 04.04.1972
recuperadas depois da 1ª flagelação ao Xitole em 04.04.1972
Ao fundo vêem-se as valas que utilizávamos durante as flagelações.
No almoço que tivémos em Monte Real, o António Azevedo, nosso médico "de serviço", (é sempre bom ter um médico por perto nestes almoços...), contou-me a seguinte história que tenho a certeza não levará a mal que aqui a reproduza.
Conta ele que quando foi o primeiro ataque ao Xitole estava no exterior da "messe" de oficiais e ao ouvir os sons das saídas de morteiro e canhão sem recuo, começou a olhar para o ar para ver onde era o "arraial", pensando estar em Viana do Castelo nas festas ou coisa parecida.
Conta também que se sentiu projectado no ar e caiu dentro da vala, comigo por cima.
Tinha sido eu que o tinha "atirado" para a vala ao dar-me conta que ele não percebia o que se estava a passar!
Se fosse hoje, com o meu peso, esmagava-o!!!!
Se a história não for bem assim, peço ao Azevedo que a emende, porque é preciso mais alguém a dar vida ao blogue.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Fado da Guiné
O Luis Graça pediu-me há uns tempos que fizesse um fado para nós Ex-Combatentes da Guiné, ou melhor, como já vi nalgum sitio, Combatentes da Guiné. Aqui está o resultado! Mais tarde, quando houver oportunidade irá ter acompanhamento.
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Vamos lá dar vida a isto
Pois é meus caros.... com o diz o David era praticamente inevitável.
As nossas memórias de guerra têm de ficar perpetuadas aqui para os vindouros.
Vamos lá dar vida a isto.
Acreditem que não custa.
Mesmo para os que têm mais dificuldades de tempo e estão menos familiarizados com estas "modernices" de blogues & Cª. temos de demonstrar coragem, afinal eu diria que já estamos habituados, e enveredar por estas movas formas de comunicação. Vencido o medo inicial vão ver que é fácil. Não hesitem em contactar-nos a mim ou ao Mexia Alves para uma ajudinha aqui e ali. no que soubermos obviamente.
É preciso é escrever
Ontem em conversa com uma das nossas "guerreiras" a Cristina Botelha obtive a promessa de qualquer coisa muito original (acho que nem no Blogue do Luis Graça" há algo assim), umas notas da guera vista pelos olhos de quem a viveu ao lado do marido combatente. Não vai ser fácil mas vou estar atento e insistente para vermos isso aqui.
Mais projectos: vou continuar os reencontros pessoais com os camaradas. segue-se o Faceira e o Cabral e agora com este espaço previlegiado vou passar a publicar aqui as notas desses reencontros.
Todo o espólio fotografico que estou a publicar em http://s234.photobucket.com/albums/ee22/guine74/ irá ser directamente integrado aqui no blogue (não sei muito bem como ainda mas eu descubro.
Há inclusivé um filme do Xitole feito em 2005 que pretendo inserir aqui para que o possam visionar todos os interessados.
Apelo uma vez mais para terminar à vossa coragem para aderirem a este projecto contribuindo para o seu engrandecimento.
Um abraço a todos
AB
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Como é que o Jamil sabia???
Quase todos os dias, ao fim da tarde, eu e outros, saíamos do aquartelamento e íamos a casa do Jamil Nasser, comerciante libanês, beber uns "uisques", acompanhados de tomate cortado aos bocadinhos só com sal.
Era assim como que a modos de sair da tropa e ir beber um copo em "sociedade civil".
Como se lembram, o Jamil tinha um criado, (gaita, era assim que se chamava naquela altura, por isso nada de criticas), que era da Gâmbia, e falava inglês.
(Se falasse françês, se calhar também tocava piano)!!!
Ora um dia em que me preparava para ir ao "social", ou seja, beber uns copos a casa do Jamil, apareceu o Suri, (assim se chamava o tal criado), dizendo-me que o Jamil pedia para não irmos naquela tarde.
Fiquei a pensar o que é que o raio do homem tinha para fazer no Xitole tão importante, para negar aquele convívio de que ele também tanto gostava.
Não foi preciso pensar muito porque pouco depois ouviram-se aqueles barulhos típicos das saídas de morteiro e canhão sem recuo e tivemos de ir beber os "uisques" para a vala.
Como é que o raio do homem sabia?!!!
Mistérios?...EhEhEh...
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Começando a "Comissão"...
Passaram-me pela cabeça episódios "épicos",histórias da guerra, coisas para rir, enfim, um sem número de hipóteses.
Vi as minhas fotografias e não tive dúvidas!
É esta mesmo, tirada no dia dos meus 23 anos, na "messe de oficiais" do Xitole!
Assim começamos a rir, porque é sempre o melhor remédio, mas também começamos a perceber que aquilo lá não fazia bem a ninguém.
Convosco, camaradas de comissão, camaradas de Xitole, parto para esta nova aventura, que já foi vivida e agora vai ser recordada.
Anseio por vos ler, por vos ver, por vos viver, por vos abraçar.
.
"Ó Mar salgado
quanto do teu sal...
Valeu a pena...
Tudo vale a pena se a alma não é pequena...."
Fernando Pessoa
UMA BOA IDEIA
Creio que um dia teria que acontecer isto... os blogues das companhias (CART's), C. CAC's) , os blogues mais das terras por onde andamos... E agora que nos conhecemos melhor e bem, no blog do Luís, nosso em conjunto... seria efectivamente necessária esta acção, para nós - melhor falarmos da nossa terra (refiro-me aos campos de batalha) e assim, avivando memória e peripécias passadas na mesma tabanca, nos mesmos matos e até no cajueiro... podermos relatar a nossa história melhor engrossando assim os grandes testemunhos dados no "novesforanada" que nos fez encontrados... afinal Jamil, Raschid, Sambas e não sei que mais... foram os do Xitole que conheceram - a ponte Carmona etc etc.. era a maralha do "Xitole" que conhecia. E eram os do Xitole que melhor se enquadravam na área adstrita que ia do Jacarajá, Salifo, Corubal até Satecuta, Ponte Carmona e Tangali - tudo era zona de intervenção do Xitole...
Pronto, agora mais apoiado creio, começarei a participar como sei e faço para com a grande Caserna do Luís - e contarei as histórias que sei e aconteceram na altura, apoiado na memória e nos escritos do Livro do BART 2917 na parte que diz repeito à CART2716...
Também aqui falarei da visita que fiz aquela terra em 2001 - e enviarei os documentários fotográficos e outros que possam servir para enriquecer este blogue que tem todo o cabimento existir... e assim falaremos do XITOLE...
Em tudo o que não conste e seja de interesse geral - entendo que deverá ser metido o feito ou "estória" no novesforanada - porque afinal será sempre aquele blogue a casa mãe e sei que o Luís ficará contente - em saber que da mater saiem filhos e que são queridos, porque beberam de lá os ensinamentos e crescem agora à sua maneira debaixo da disciplina da sã convivência...
Ai Mexia Alves enquadrado na Cart que substitui a nossa Carta 2716, que na altura os vi com agrado a me irem render no meu "adeus às armas" - e que agora conto a ele e a outros que nos reencontramos como grandes amigos - endereço então o abraço a todos na figura dele - que bem pode porque é "bem grande"... e digo mais firmemente porque sei que estou na presença de um amigo.
Emocionado, quis ser eu também um dos que manifestamente quer que este blogue cresça - na verdade das nossas histórias do tempo em que uma garrafa de Whisky custava 50$00 e a guerra existia - e de que maneira...
Assinalo assim a minha presença - David Guimarães, ex: Furriel Miliciano At de Art. e Minas e Armadilhas nº 17345368, Cart 2716 quartelada no Xitole (do BART 2917 - sediado em Bambadinca).
Uma Justificação e uma espécie de Linha Editorial
A ideia deste espaço, surgiu-me depois do primeiro almoço da CART 3492, que aconteceu em Monte Real, dia 5 de Outubro deste ano, ou seja, 34 anos depois de sairmos da Guiné.
O “seu a seu dono”, e este almoço aconteceu, porque há uns tempos o Luís Graça se lembrou de fazer um blogue, Luis Graça & Camaradas da Guiné em que se juntassem todos os ex-combatentes da Guiné e ali pudessem trocar as suas vivências, as suas histórias, as suas visões da guerra em que estivemos envolvidos.
Os contactos foram acontecendo, foram-se provocando e passados uns meses aconteceu o almoço.
Quando cheguei a casa depois de um dia emocionante, (para além de bem comido e “regado”), surgiu-me a ideia deste blogue, XITOLE, onde se juntassem todos aqueles que por lá passaram, seja integrados numa qualquer Companhia, Pelotão de Morteiros, rendição individual, enfim, que lá estiveram por causa da guerra, seja quando ou por quanto tempo tenha sido.
Vamos convidar todos os que queiram ser convidados e “preencham” as condições acima descritas, e todos terão acesso a colocarem directamente os seus textos, fotografias, canções, etc, etc.
Por isso mesmo há que estabelecer uma espécie de regras, ou qualquer coisa parecida com isso.
Assim, não serão permitidos insultos, palavrões, (para além daqueles que possam transcrever um qualquer episódio), considerandos sobre religião, (seja ela qual for e de quem for), politica, (a não ser dizer mal do governo...estou a brincar), e sobretudo discussões parvas!!!
Aconselha-se vivamente a que não sejam emitidos juízos de valor sobre os camaradas de armas da Guiné.
Aconselha-se também que não se diga mal dos comandantes, a não ser os que tenham sido incompetentes...o que já dá pano para mangas!
Estas regras poderão ser alteradas se tal se justificar.
Já falei com o Luís Graça sobre o assunto, e é nosso desejo manter sempre uma agradecida e estreita ligação com o blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné , como ele também deseja.
Como compreenderão alguém tem de velar para que as poucas regras sejam cumpridas, e como eu sozinho me é dificil, (para além de não perceber patavina destas coisas da informática), irei convidar outros camaradas que me queiram ajudar na “gestão” deste espaço, que já sabemos, não irá dar trabalho nenhum.
Agora mãos à obra e todos os que se lembrarem de outros que tenham estado no Xitole e queiram juntar-se a nós, basta enviar para o endereço de mail que está no perfil, o endereço dos interessados e de imediato lhes será enviado o código de acesso.
Um dia poder-se-á fazer um almoço com todos os que estiveram no Xitole e em épocas diferentes, o que já é um enorme motivo de conversa e de amizade.
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