quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ponte dos Fulas - meu primeiro destino de guerra

O Destacamento da Ponte dos Fulas
As "suites" com as respectivas valas
A Ponte dos Fulas
Ao fundo, junto à ponte, o "fortim" de segurança imediata
No ano de 1970, 16 de Maio pelo fim de tarde sai de Viana do Castelo um Comboio com um Batalhão rumo a Alcântara… parou três vezes… uma em cima da ponte de Viana (um militar desenquadrado das formaturas – chegou na hora do comboio partir e (pendurou-se na plataforma da porta)… como as portas estavam trancadas – ELES LÁ SABIAM PORQUÊ – o alarme toca e o militar então entrou para a carruagem em cima da ponte… Novamente em marcha fomos parar em Campanhã… Ali aguardavam os nossos Comandos o CMDT da Unidade mãe – RAP2 – e fizeram-se as despedidas… Entretanto mudou-se a locomotiva também… E lá partimos e surge a terceira paragem e última do Comboio…. Estação Marítima de Alcântara… Era o dia 17 de Maio, um navio embandeirado e muito velho (Carvalho Araújo), nós a entrar para dentro daquela coisa… uma festa dos diabos no meio de tantos choros… e lá fomos…. e era dia 25 de Maio e lá estávamos nós a desembarcar ali… numa água muito turva e um clima altamente quente e abafado… Trajecto até Brá e pronto lá nos instalámos nas tendas de campanha… Uns dias depois, poucos, aí vamos nós ruma ao rio e entramos naquele grande barco de ferro… que coisa…. Era noite… Uma Berliet, um Batalhão inteiro e tudo o mais… as ideias, as saudades e começa aquela coisa a andar… Uma LDG que passadas umas horitas atracava no cais do Xime… onde saiu tudo… Já era dia claro que era… a noite tinha-se passado naquela excursão rio acima…. Ouviamos o termo pira… os deditos no ar… Ordem…. Viaturas e mais viaturas… a Cart 2715 fica aqui as outras embarcam nas viaturas… (CCS, 2714 e 2716)… e lá começou aquilo a andar… Bambadinca… a CCS desce aqui as outras seguem… mais dedos no ar e chamamento de piras…. Recomeçou a marcha…. A coluna volta a parar…. Aqui é Mansambo, desça a 2714…. A outra segue…. Uma Companhia que ia bem para mais longe…. A 2716 que continua… sempre no mato víamos de um e de outro lado tropa… que nos saudavam com os dedos de pira… até que surge uma voz de alguém que nos acompanhava… Isto aqui é vosso – A PONTE DOS FULAS… mais uma roda de piras e... continuamos mais aqueles 3 km… e no terreno meio inclinado aí estávamos nós Xitole…. Bem aqui e ali alojem-se … aqui sargentos ali oficiais…. Vivam estejam bem, sejam bem vindos, eu também já fui pira… a minha farda já foi nova etc etc… Mas a Ponte dos Fulas tinha lá tropa… - quem me dera não ir para lá… pensei eu… ali deve ser um desterro…. Tinha-se passado um dia e ordem de sorteio… quem vai para a Ponte dos Fulas? 3º Grupo de Combate – neste momento vão só duas secções que serão enquadradas pelas duas da Cart que fomos substituir… E la foram as duas secções – por um mês. Não é que uma das secções foi exactamente a minha…. Comecei assim a minha guerra do Xitole não aí, mas na Ponte dos Fulas… Onde cedo conheci o Mamadu pescador, que era o único sinal de civil que por lá aparecia quando ia à Pesca para o Pulon.. o tal rio que numa época quase nem corria e noutra era um grande rio… mais nada… Dizia-me um Furriel já velhinho – que me ensinava estar na Ponte: - aqui não fazes nada, é só vigiar e deixar passar o tempo – e de noite se estiveres com atenção ouvirás de vez enquando o batuque …o deles claro… apontando-me os lados de Satecuta….. Isto foi verdade… eu ouvi mais vezes sim, portanto não era treta de velho… Como me tinha esquecido dos meus Valiuns no Quartel do Xitole pedi ao Furriel Ferreira, meu camarada de curso e também de minas e armadilhas – que providenciasse para ao outro dia me lá levarem a pílula… Não há dúvidas ao outro dia lá tive a pílula e o negócio de estar ali um mês destacado a fazer – nada… Mas fez-me bem começar na PONTE DOS FULAS. David Guimarães

2 comentários:

joaquim disse...

Caro David mais uma semelhante:

Também começei na Ponte dos Fulas...

Abraço amigo

ADIANTE disse...

Guimarães,
Lembras-te do posto de sentinela construído (com bidões cheios de terra e pedras) em cima do fortim da ponte dos fulas, salvo erro em finais de 1971?
E lembras-te do "engenheiro" responsável pelo projecto e pela sua execução?
Quando tiver um pouco mais de disponibilidade contarei as razões da iniciativa.
Um abraço,
Jorge Silva - ex-furriel da CART 2716