quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O humor do Estado Português ou a sua preocupação com o bem estar dos seus militares...

O titulo, pode parecer estranho, mas a verdade é que só levando a coisa para o gozo é que podemos recordar certos acontecimentos da nossa vida militar.
Ao que julgamos saber, eu e mais todos os que me acompanharam na viagem do Niassa para a Guiné, foi a preocupação do Estado Português em nos proporcionar um Natal diferente e mais familiar, que nos fez embarcar no célebre Paquete de Luxo Niassa, no dia 21 de Dezembro de 1971, por forma a podermos celebrar, com a grande família militar, as festas natalícias desse ano, na certeza de que muito apreciaríamos esse gesto de carinho e interesse pelo nosso bem estar.
Claro, a maior parte de nós, há mais de 19/20 anos que passavámos o Natal com a família e, por isso, sabendo que estavamos enfadados com a rotina, decidiram dar-nos assim umas Festas diferentes.
Ao que me lembro, o Niassa transportava o nosso Batalhão, e uma ou duas Companhias Independentes, o que já era uma população muito considerável para tão frágil navio.
Lembro-me de ter ido jantar um dia com os soldados do meu pelotão, e ter ficado impressionado e chocado com as condições de transporte daqueles homens.
No chamado bar de Oficiais havia uma banda de música, composta se não me engano por três indivíduos de idade avançada, pelo menos para mim, o que tornava o ambiente ainda mais surreal.
A mesa de pingue-pongue na varanda (não sei o termo náutico, tombadilho?), junto ao bar deixou rapidamente de ter clientes porque, julgo eu, devem ter acabado as bolas para o jogo, no Atlântico ao sabor das ondas.
Lembro-me ainda da excitação do pessoal quando se avistaram peixes voadores, porque tirando a experiência dos mais viajados, para a maior parte era algo que apenas pertencia aos livros de Zoologia.
O calor, quando entrámos no Golfo da Guiné, era insuportável, e somado ao barulho constante das máquinas do navio e ao cheiro a vomitado que tomava conta dos corredores, tornou o Natal a bordo algo de inesquecível, dando razão àqueles que, preocupados com o nosso bem estar, nos fizeram embarcar naquela data para a Guiné.
Chegados ao largo de Bissau, descemos directamente para as LDG, que nos transportaram para a ilha de Bolama, (pelo menos o meu Batalhão), onde fomos recebidos com cânticos do folclore autóctone, nomeadamente, a por demais conhecida canção Periquito vai no Mato.
Ficámos em Bolama cerca de um mês, mas isso é estória para depois.
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Nota.
Texto, com algumas alterações, já colocado no Luis Graça & Camaradas da Guiné.

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