sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O NOSSO CRUZEIRO DE NATAL

Meus caros Estão a cumprir-se 36 anos sobre a data de embarque para o cruzeiro memorável para a Guiné, em que a maior parte de nós teve o privilégio de participar.
O "paquete" Niassa de seu nome, foi equipado a preceito como bem se recordam, com camaratas tipo andaime num porão, onde mais de 500 jovens partilhavam essa inovação tipo "open space" (embora praticamente não houvesse escotilhas (?) para o exterior) e que só agora está na moda, para transporte de clandestinos no sentido inverso!
A carga de melaço com que o outro porão foi carregado, e que só por maldade ou manifesto mau gosto, alguns disseram ter um cheiro horrorosamente enjoativo (a maledicência é realmente um característica dos portugueses...).
A data, que foi alvo das mais elaboradas cogitações pelos altos cérebros (?) das forças Armadas da altura, não poderia ter sido melhor escolhida. Como seria possível aos mais de 500 ex-militares, respectivas famílias e amigos, ainda hoje terem esta recordação tão viva e forte desse evento. Todos temos garantidamente inumeras recordações desse memorável cruzeiro, mas permito-me recordar as que ainda hoje sinto como mais marcantes.
Aquela sessão de cinema ao ar livre com a projecção do filme "A Batalha das Ardenas" (escolhido garantidamente pelos tais cérebros (?) brilhantes). Sim, quem tem dúvidas sobre o enorme efeito moralizador, que um filme de guerra teria sobre aqule enorme grupo de jovens ansiosos por saber como era a guerra? (os tais maledicentes lá vieram com o argumento de que se tratava de uma batalha mais adequada para a cavalaria, porque quase só metia tanques, e que nós eramos tropa de artilharia.
Mentira e má vontade, porque toda a gente sabe que nenhum de nós sabia raspas de peças de artilharia (seriam o morteiro 60 ou a bazooka peças de artilharia? Agora fiquei um pouco baralhado , mas como eu era um generalista de operações especiais e com a ajuda da idade posso estar a fazer algumas confusões...).
Mas, e os jogos de ping-pong que invariavelmente terminavam por falta de bolas, pois ao longo do jogo iam voando borda fora...) E para os mais privilegiados, o grupo musical (a que o Mexia já se referiu) e cujo repertório de musicas românticas abalava mesmo os mais machões! E só por pudor termino este evocar de recordações, em que o cinismo apenas serviu para atenuar toda a revolta que ainda hoje sinto por tamanha estupidez, que é mandar mais de 500 jovens para a guerra na véspera de natal, quando nada justificava essa decisão, pois ainda havia para cumprir um mês de IAO. Felizmente para todos nós, poderemos festejar este Natal com aqueles que para nós são importantes e recordar todos aqueles com quem, infelizmente, já não podemos partilhar esta alegria. A todos desejo que passem um Santo Natal e um óptimo 2008!!!
João Lima Rodrigues

1 comentário:

Amsoares disse...

Parabéns Rodrigues.
Fizeste-me recuar 36 anos nas nossas vidas. Faz hoje, precisamente todos estes anos que alguém, menosprezando todo e qualquer sentimento pelo seu semelhante, nos enviou para uma guerra, que não era certamente de nenhum de nós.
Um Abraço
Soares